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Como tudo começou...

Desde a minha adolescência, gostava de assuntos voltados a espiritualidade.  Nos meus 18 anos, a caminho de morar na França e viajar com uma mochila nas costas sozinha pela Europa, levei o livro “Arte da Felicidade” do Dalai Lama que mudou minha visão de espiritualidade e autoconhecimento. Como iria viajar bastante, tive que deixar o livro para trás, mas fiz uma coisa que acho horrível. Arranquei o capitulo 16 e levei comigo.

Este capitulo é uma síntese do livro, foi o que mais mexeu comigo e tenho guardado até hoje, para me lembrar sempre o que deu o "start" na minha jornada que mudou completamente minha vida!

 

Leiam e se inspirem a mudar a vida de vocês também.

Capitulo 16 - Um Apelo

"Ter chegado às ultimas paginas deste livro faz lembrar a transitoriedade de nossa vida. Como passa rápido e como logo chegamos ao nosso ultimo dia. Dentro de menos de cinquenta anos, eu, Tenzin Gyatso, o monge budista, serei apenas uma lembrança. Na verdade, é pouco provável que qualquer uma das pessoas que estejam agora lendo estas palavras possa estar viva daqui a cem anos. O tempo passa inexoravelmente. Quando cometemos erros não podemos voltar os ponteiros do relógio para tentar outra vez. A única coisa que podemos fazer é usar bem o presente. Então, quando nosso ultimo dia chegar, poderemos olhar para trás e ver que vivemos vidas plenas, produtivas e significativas, o que nos trará algum conforto. Do contrario, a tristeza pode ser muito grande. A escolha entre as duas alternativas cabe somente a nós.

A melhor maneira de ter certeza de que um dia nos aproximaremos da morte sem remorsos é agindo de maneira responsável e manifestando compaixão pelos outros no presente. Na verdade, isso é de nosso próprio interesse e não apenas porque vá nos beneficiar no futuro. Como vimos, a compaixão é uma das coisas que mais dão sentido às nossas vidas. É a fonte de toda felicidade e alegria duradouras. É o alicerce de um bom coração, o coração daquele que age motivado pela vontade de ajudar os outros. Por meio da bondade, da afeição, da honestidade, por meio da verdade e da justiça para com todos os outros é que asseguramos nossos próprios benefícios. Esta não é uma questão para ser debatida com teorizações complicadas. É uma questão simples, de bom senso. Não ha como negar que a consideração pelos outros é algo valioso. Não ha como negar que a nossa felicidade esta intrincicavelmente entrelaçada à felicidade dos outros. Nao ha como negar que, se a sociedade sofre, nós também sofremos. Nem há como negar que quanto mais animosidade ha em nossos corações, mais infelizes nos tornamos. Por isso, podemos rejeitar tudo o mais: religião, ideologia, toda a sabedoria recebida. Mas não podemos escapar à necessidade de amor e compaixão.

Esta, então, é a minha religião verdadeira, minha fé simples. Neste sentido, não é preciso existir templo ou igreja, mesquita ou sinagoga, não ha necessidade de filosofia, doutrina ou dogmas complicados. Nosso próprio coração e nossa própria mente são o templo. A doutrina é a compaixão. Amor pelos outros e respeito por seus direitos e sua dignidade, sejam eles quem forem ou o que forem: é só o que afinal precisamos ter. Se praticarmos isso em nossas vidas diárias, não importa se somos instruídos ou ignorantes, se acreditamos em Buda ou em Deus, se seguimos outra religião ou não seguimos nenhuma. Desde que tenhamos compaixão pelos outros e sejamos capazes de nos conter, motivados pela noção de responsabilidade, não ha duvida de que seremos felizes.

Por que, então, se é tão simples ser feliz, achamos que é tao difícil? Lamentavelmente, apesar de quase todos nós nos considerarmos compassivos, costumamos ignorar essas verdades baseadas no puro bom senso. Deixamos de enfrentar nossos pensamentos e emoções negativos. Ao contrario do fazendeiro que acompanha as estações do ano e não hesita em começar a cultivar a terra quando chega a hora, desperdiçamos tempo demais em atividades sem sentido. Sentimos profundo pesar com relação a assuntos banais como perder dinheiro e, ao mesmo tempo, somos negligentes com o que é de fato importante sem que o menor sentimento de remorso nos perturbe. Em vez de nos alegrarmos com as oportunidades que temos de contribuir para o bem-estar alheio, só pensamos em prazeres fáceis.

 

Recusamo-nos a pensar nos outros alegando que estamos muito ocupados. Corremos para la e para cá fazendo cálculos e dando telefonemas e achando que é melhor assim. Fazemos uma coisa já preocupados com ter de fazer outra diferente caso algo não saia como esperamos. E em tudo isso utilizamos apenas os níveis mais superficiais, elementares e menos refinados do espirito humano. Alem do mais, por estarmos desatentos às necessidades dos outros, acabamos inevitavelmente lhes causando mal. Achamos que somos muito inteligentes, mas como é que usamos nossos talentos? Com demasiada frequência nos os usamos para enganar nosso próximo, aproveitar-nos dele e subir à sua custa. E quando as coisas não dão certo, cheios de hipocrisia, nos o culpamos por nossos problemas.

No entanto, a aquisição de objetos materiais não proporciona satisfação duradoura. Não importa quantos amigos conquistemos, não serão eles que de fato vão fazer a nossa felicidade. E entregar-se aos prazeres dos sentidos é apenas um convite a varias formas de sofrimento. É como mel lambuzado na lamina de uma espada. Nem por isso devemos desprezar nosso corpo. Pelo contrario, pois não podemos fazer nada sem que ele esteja bem. Mas precisamos evitar os extremos que podem nos prejudicar.

Quando nos concentramos no que é mundano, o essencial permanece escondido em nós. É claro que se pudéssemos ser verdadeiramente felizes dessa maneira, este tipo de vida seria inteiramente razoável. Mas não podemos. Na melhor das hipóteses, a vida vai transcorrendo sem grandes aborrecimentos. Mas os problemas chegam, mais cedo ou mais tarde, e nos encontram despreparados. Não sabemos como lidar com eles. E nos desesperamos, e nos lamentamos.

Portando, uno minhas mãos e apelo a você, leitor, para que torne o resto de sua vida tão significativo quanto possível. Faça isso através da pratica espiritual, se puder. Como espero ter deixado claro, não ha nada de misterioso nisso. Consiste apenas em agir levando os outros em consideração. E se você o fizer com sinceridade e persistência, pouco a pouco, passo a passo, será capaz de reordenar seus hábitos e atitudes e pensar menos em seu pequeno mundo de interesses e mais nos interesses de todas as outras pessoas. E encontrara paz e felicidade para si mesmo.

Abandone a inveja, desapegue-se do desejo de sobrepujar os outros. Em vez disso, tente fazer bem a eles. Com bondade e gentileza, com coragem e confiando que é assim que terá sucesso de fato, receba-os com um sorriso. Seja franco e honesto. E tente ser imparcial. Trate todos como se fossem amigos muito próximos. Não digo isso como Dalai Lama ou como alguém que tenha poderes ou talentos especiais. Não os tenho. Falo como um ser humano, alguém que, como você, quer ser feliz e não sofrer.

Mas se você por algum motivo não puder ajudar as outras pessoas, procure ao menos não lhes fazer nenhum mal. Considere-se um turista. Penso no como é visto do espaço, tão pequeno e insignificante, e ainda assim tão belo. Haveria realmente alguma coisa a ganhar fazendo mal a alguém durante a nossa estada aqui? Não seria preferível e mais razoável divertir-se e aproveitar a ocasião tranquilamente como se estivesse visitando um lugar diferente? Portanto, se em seu passeio pelo mundo você dispuser de um momento, tente ajudar, mesmo que de forma modesta, aqueles que são oprimidos ou que por alguma razão não podem ou não querem ajudar a si mesmo. Tente não dar as costas àqueles cuja aparência é perturbadora, aos maltrapilhos e enfermos. Procure nunca pensar neles como se fossem inferiores. Se puder, não se considere melhor do que nem mesmo o mendigo mais humilde. Vocês dois terão a mesma aparência depois da morte.

Para encerrar, gostaria de compartilhar com você uma breve oração que serve de grande inspiração para meu propósito de fazer bem aos outros.

Que eu me torne em todos os momentos, agora e sempre,

um protetor para os desprotegidos,

um guia para os que perderam o rumo,

um navio para os que tem oceanos a cruzar,

uma ponte para os que tem rios a atravessar,

um santuários para os que estão em perigo,

uma lâmpada para os que não tem luz,

e um servidor para todos os necessitados."

Renata Mendes, especialista em autoconhecimento, empreendedorismo social e escritora.

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