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A Índia dos Gurus

A Índia é muito conhecida pela importância com que o povo trata e cultua a espiritualidade. Isso faz com que milhões de pessoas, de todas as partes do mundo, dirijam-se ao país em busca de mestres ou professores que possam orientá-las e ajudá-las a esclarecer suas dúvidas e questionamentos sobre a vida. Alguns vão em busca  de conforto para a perda de alguém próximo e querido e outros, sejam por estarem seguindo uma tendência ou 'moda', estão ali como que por acaso. Embora os motivos que fazem com que os indivíduos procurem aprofundar seus conhecimentos sobre a vida espiritual sejam bem diferentes, em todos os casos existe uma certa ânsia em saber mais sobre a vida e o seu sentido. 

 

Um Guru não é uma pessoa incrível mas é uma pessoa que consegue mostrar o que é incrível em você, deve estimular seus discípulos a buscar o conhecimento não só por meio de palavras, mas também por ações corretas. Ninguém, nem mesmo um grande mestre, consegue fazer as mudanças pelos outros. Cada pessoa tem o seu talento e deve exercê-lo, pois teríamos o caos se todos resolvessem tornar-se monges e ficar meditando nas cavernas. O Guru é uma ferramenta que faz com que a pessoa possa lembrar-se, caso tenha esquecido, de que é um ser completo e que a confusão vem da ignorância de não reconhecer esse fato. Portanto, o Guru serve para dar liberdade à pessoa e não aprisiona-la. Se o indivíduo escolher levar uma vida de renúncia, de servir aos outros e até mesmo a um mestre, que essa escolha seja por opção e nunca por falta de opção, por fuga.

 

Algumas pessoas que chegam à Índia, em busca de autoconhecimento, projetam uma visão romântica e esperam encontrar um lugar onde tudo é lindo, todos se amam e os mestres, vestidos de branco ou laranja, têm um tom de voz adocicado, usam barba e cabelo comprido e falam sobre o desapego, a compaixão, a entrega, de Deus, de unidade e daí por diante. No entanto, na prática as coisas são bem diferentes, pois esse é um lugar fácil para se cair numa 'roubada espiritual' se a pessoa não tiver muito discernimento. Por exemplo, quando se vai a um ashram, uma escola simples onde as pessoas vão estudar e normalmente, renunciaram aos bens materiais para se aprofundar na vida espiritual ou a um templo onde há cerimônias para reverenciar o divino, ficamos tão envolvidos emocionalmente pelo ambiente que nos tornamos presas fáceis para as pessoas que se dizem representantes dessa espiritualidade como alguns Brahmamis, a pessoa que faz a cerimonia nos templos e Gurus mal intencionados. Já fui vítima dessas arapucas espirituais e uma vez, em uma cerimônia, o Brahmami me envolveu de tal forma que quando me dei conta eu não só tinha feito uma "doação" como já tinha até assinado o recibo.

 

Cada tradição tem o seu caminho e essa é a beleza das diferentes opções e linguagens. Devemos procurar respeitar a forma de como o conhecimento é colocado, sem agredir quem somos e também sem hipocrisia, mentiras, máscaras e dentro dos princípios éticos universais. Só assim a espiritualidade fica clara, transparente, verdadeira e gera confiança.

 

Mas existem grupos de pessoas que usam a espiritualidade para ganhar a vida. Recebem milhões de dólares como  doação para trabalhos altruístas mas, na verdade, ajudam a poucos e a maior parte é utilizada para atender suas luxuosas necessidades pessoais: alguns "mestres'" compram carros importados, usam jóias de pedras preciosas, só viajam de primeira classe e chegam ao cúmulo de serem alimentados na boca por seus discípulos, sem terem nenhuma doença ou necessidades especiais . Ou seja, são tratados como se fossem deuses e viram verdadeiras estrelas, as celebridades espirituais. Com isso surgem as disputas para ver quem é o maior 'mestre', quem aparece mais, quem ganha mais, quem faz os maiores eventos, quem tem mais devotos, quem viaja mais e toda a politicagem que resulta desse tipo de comportamento. Dessa forma, esses falsos mestres deixam de lado a espiritualidade e acabam não se diferenciando de qualquer outro fanático religioso ou político.

 

O grande perigo para as pessoas que vão à Índia em busca de crescimento espiritual é cair nas malhas desses falsos mestres que vendem a imagem de santos, intocáveis e iluminados. Evidentemente que somos seres humanos, imperfeitos em qualquer lugar do mundo e em qualquer área de atuação e somos sujeitos à inveja, ganância, raiva e outros sentimentos naturais a nossa espécie. Infelizmente, esses 'mestres' tentam apropriar-se de conhecimentos milenares para vendê-los como se fosse um produto comercial, prometendo coisas absurdas como iluminação em uma semana, sem nenhum esforço. É óbvio que, no mundo de hoje, algumas pessoas querem conseguir as coisas da forma mais fácil possível e o oferecimento de uma solução para todos os problemas como num passe de mágica sempre terá interessados, assim como as propagandas que prometem abdômen sarado assistindo TV.

 

Portanto, não se esqueça de tomar cuidado com os 'mestres' que querem conduzir a sua vida. Sempre os questione e use o bom senso e o discernimento. Infelizmente, a espiritualidade é o grande negócio da atualidade, e, como negócio, o objetivo é o lucro, por isso, todos querem ganhar cada vez mais com ele. Existem grandes e verdadeiros Gurus, aprenda a identificá-los pois estes exercem um papel fundamental para a humanidade dividindo o seu profundo conhecimento. E uma vez em contato com eles, isso pode sim mudar a forma como você vê e vive a vida.

Renata Mendes, especialista em autoconhecimento, empreendedorismo social e escritora.

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