A Força do Sul Global: Construindo Pontes para a Erradicação da Extrema Pobreza entre Índia e Brasil
- Renata Mendes
- 30 de mai.
- 3 min de leitura
No primeiro semestre deste ano, fui convidada a enfrentar um novo desafio na minha trajetória como consultora: criar a curadoria, organizar, articular e acompanhar um intercâmbio técnico focado no combate à extrema pobreza, com destino à Índia. Esse projeto foi motivado pelo compromisso da Vale de apoiar a saída de 500 mil pessoas da situação de extrema pobreza até 2030. Para alcançar essa meta, a empresa busca abordagens e práticas inspiradoras, o que nos levou à Índia, um país que, recentemente, conseguiu tirar mais de 134 milhões de pessoas dessa condição utilizando, entre outras, uma metodologia chamada abordagem de graduação multidimensional da pobreza em zonas rurais.
Acompanhada por um grupo de profissionais incríveis — Flavia Constant, diretora de investimento social privado da Vale e presidente da Fundação Vale, Eliana Sousa Silva, fundadora da Rede da Maré, e Letícia Verona, cientista de dados, e consultoras do programa da Vale — fizemos uma imersão de 13 dias. Visitamos quatro cidades e oito organizações dos setores público, privado e do terceiro setor, que foram essenciais para alcançar esses resultados na Índia. Saímos inspiradas, reflexivas e com muitas perguntas. Esse intercâmbio ampliou nossa visão, provocou questionamentos e trouxe aprendizados inestimáveis, que compartilho abaixo dentro de uma visão de impacto social e cultura de paz, levando em consideração que não sou especialista em extrema pobreza:
Lições sobre impacto social e cultura de paz
A colaboração é essencial: Para alcançar números de escala, como o da Índia, a articulação entre governo, setor privado e terceiro setor é imprescindível. Cada um tem responsabilidades definidas, mas o objetivo comum é o mesmo: garantir que as pessoas em situação de extrema pobreza tenham acesso a políticas públicas.
Investimento em mulheres transforma comunidades: Diversas organizações afirmaram que investir em mulheres é um dos caminhos mais eficazes para uma mudança estrutural. Na Índia, as mulheres formam grupos de ajuda mútua (self-help groups), onde têm acesso a crédito e apoio para iniciar negócios e transformar suas comunidades. Esse investimento direto nas mulheres fortalece suas famílias e comunidades e provoca mudanças culturais impressionantes em poucos anos.
A seleção de beneficiárias e o apoio constante fazem a diferença: Dois pontos críticos para o sucesso da abordagem graduation são a escolha das beneficiárias e o acompanhamento dedicado dos coaches. A seleção é feita pela comunidade, identificando as mais pobres, e os coaches acompanham famílias semanalmente, guiando-as no desenvolvimento de empreendimentos e no acesso a direitos. Esse apoio constante fortalece autoestima e autonomia, contribuindo para resultados duradouros.
Tecnologia como aliada: A Índia, um dos maiores polos de tecnologia do mundo, utiliza ferramentas digitais para monitorar e avaliar o impacto dos programas. Por exemplo, o aplicativo Sarathi, desenvolvido pela organização The/Nudge Institute, orienta semanalmente os coaches sobre as ações e visitas que devem realizar, adaptado para cada estado e idioma local, além de funcionar offline.
Da esquerda para direita sentido horário: J-PAL, The Nudge Institute, TCS, PCI India e Bandhan-Konnagar, e projeto na creche do programa
Desafios e reflexões
Brasil e Índia compartilham desafios semelhantes, como a valorização de populações que vivem nas florestas (povos indígenas ou tribais), e os desafios das mudanças climáticas, temas relacionados a pobreza extrema. Esse intercâmbio nos mostrou a força da colaboração, a importância da autonomia de escolha pelos beneficiários e o papel essencial do investimento em gênero. Essa é uma boa combinação entre impacto social e cultura de paz: diálogo e troca de saberes do Sul Global.
Em um mundo onde os desafios sociais são urgentes e interconectados, conhecer práticas de sucesso em outros países abre portas para inovações que talvez não teríamos considerado. É sobre aprender, adaptar e, acima de tudo, sobre acreditar que mudanças estruturais podem, sim, acontecer quando nos abrimos para o aprendizado com outras culturas e trajetórias de forma colaborativa.
Agradecimento imenso a todas as organizações que nos receberam e ao apoio de tantos profissionais generosos, como o embaixador Kenneth Felix Haczynski da Nóbrega, Chamber of Commerce India Brasil, as equipes de NITI Aayog, BRAC International , J-PAL South Asia , PCI India , Bandhan-Konnagar , The/Nudge Institute, Tata Consultancy Services India e América Latina, e Chorten Viagens do Guilherme Samel por ter organizado a viagem. Esse aprendizado ficará conosco e continuaremos trocando experiências e compartilhando conhecimentos.
Aos poucos, compartilharei mais insights e detalhes sobre cada organização.
*texto original foi publicado no Linkedin no dia 5 de novembro de 2024
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